Câmara vota proposta que proíbe o cigarro em praças, parques infantis, áreas de lazer e locais destinados a esportes
Caso seja sancionada, a proposta coloca Londrina na pequena lista de cidades do mundo onde fumar, na prática, só é permitido em casa ou caminhando pela rua – e sozinho. Em Nova York, desde maio, fumantes que se aventuram com um cigarrinho no Central Park, por exemplo, são multados em US$ 50.
Na versão londrinense da proposta, acender um cachimbo, cigarro, charuto ou cigarrilha no bosque no centro da cidade ou mesmo ao ar livre no Zerão, nem pensar – mas não há previsão de multas ou punição. Semana passada, a proposta foi aprovada em primeira votação quase sem debates.
Desde 2009, a Câmara de Vereadores de Londrina dificulta a vida de quem fuma. A última atualização da lei antifumo da cidade proibiu a reserva de quartos de hotéis para fumantes – e neles ficou decretado o fim do cigarro em todas as instalações.
“O ideal é que o tabagismo seja abolido. Não acho uma agressão à liberdade, muito menos um exagero proibir alguém de fumar em uma praça”, defende Marcio Almeida (PSDB), autor principal da proposta, ex-fumante há 15 anos, depois de 20 deles com um maço no bolso. Dependendo da aceitação dos demais colegas, o parlamentar promete ainda apresentar uma emenda para também impedir o cigarro dentro de veículos – públicos e privados – que carreguem crianças. “A maioria ainda acha que cigarro é um hábito, um direito de quem fuma. O conhecimento e a ciência, entretanto, colocam o fumo como uma doença a ser combatida.”
“Proibir assim é um radicalismo excessivo”, pontua Ivo de Bassi (PTN). Ex-fumante há 20 anos, preferiu se abster na primeira votação. “O cidadão não aguenta mais gente interferindo na vida particular dele. Vai virar uma revolta contra a Câmara”, prevê. “Daqui a pouco vão querer proibir cerveja no boteco.”
“Só me faltava essa”, bombardeou, de pronto, o aposentado Sebastião Frederico Reis, 66 anos, 47 em meio aos tragos diários. À espera da esposa que fazia exercícios na academia ao ar livre na praça do Jardim Bandeirantes (zona oeste), exibia um cigarrinho em uma mão, caldo de cana noutra. “Fumar virou quase um crime. Nem aqui mais? Não pode ser verdade”. “Já não gosto de política e agora nem entendo como acham que podem mexer na minha vida.”
Na Policlínica da zona oeste, um dos grupos públicos de suporte para quem pretende deixar o maço para trás tem 15 integrantes, com histórias completamente diversas de vício. “O importante é cada um entender o seu padrão de dependência do cigarro”, explica a médica Vânia Brum, há cinco anos organizando grupos de terapia na rede municipal de saúde. “E as histórias ajudam cada um a entender as próprias dificuldades”. Nos grupos, abertos em sete postos de saúde de Londrina, os fumantes acessam medicamentos e conversam – muito mesmo. “Estar junto é importante para trabalhar as recaídas durante a tentativa de largar o vício”, diz a médica. “O cigarro engana porque aparenta ser uma fonte de prazer. Mas por trás dele, sempre há um conjunto de problemas associados. As pessoas fumam por diversos motivos e o cigarro é uma muleta. A dependência não é só química: e sim psicológica e comportamental”, reforça a enfermeira Adriana Henrique Ribeiro Menezes, coordenadora do Programa de Controle de Tabagismo da Prefeitura de Londrina. Na terapia em grupo, até 60% dos fumantes esquecem o cigarro após um ano de tratamento. As inscrições são abertas e gratuitas, bastando procurar um dos postos municipais.
25, Setembro 2009 - 20:32:29
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